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Práticas de ESG esbarram em gargalos no Brasil, aponta especialista

Falta de profissionais qualificados e custos elevados dificultam implantação de projetos com o conceito nas empresas

Autor: Carolina CapozziFonte: A Autora

O ESG tem se tornado interessante para as grandes empresas como uma forma de atrair uma parte dos consumidores que se identifica com determinadas causas. Muitas corporações são cobradas pelo público a se posicionarem sobre temas diversos. Por isso, já não é mais único fator relevante que uma determinada companhia produza um grande produto ou ofereça um ótimo serviço, ela precisa estar alinhada ao que a sociedade quer e acredita.

Para o advogado especializado em Governança Corporativa, Direito Societário, Contratual e Econômico, Emanuel Pessoa, essas corporações esbarram, no entanto, em dois grandes gargalos para a melhor implementação de projetos voltados ao ESG, sigla para “Meio Ambiente, Social e Governança”. Um deles é o número reduzido de profissionais efetivamente qualificados para trabalhar com a temática. O outro tem relação com o custo de ofertar produtos e serviços alinhados com o ESG, ainda alto e para um mercado reduzido, dado o poder aquisitivo da população que, em geral, não tem como bancar esses valores.

“Muitas vezes, empresas interessadas em promover mudanças sociais ou de consumo podem se ver em situação econômica desvantajosa, tornando-se incapazes de agir como desejavam”, esclarece Emanuel. Na opinião do especialista, o ESG precisa ser aplicado de forma racional pelas empresas, apesar de o tema ter se tornado central, tanto para os negócios em geral quanto para os consumidores.

Uma pesquisa feita recentemente pela Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) mostra que 87% das companhias listadas na B3 afirmam ter aumentado o envolvimento e conhecimento da área de relações com investidores dos temas ESG nos últimos 12 meses. Do lado da população, 94% dos brasileiros esperam uma iniciativa das empresas para fazer algo sobre o assunto, segundo outro estudo da consultoria Walk The Talk by La Maison.

Temas que chamam atenção

Atualmente, dois tipos de pautas chamam bastante a atenção dos consumidores, avalia o advogado. A preservação do meio ambiente e as questões sociais, as quais compõem, respectivamente, o “E” e o “S” de ESG. Já o “G”, de governança, é, no Brasil, um tema mais restrito a investidores. “Com um mercado de capitais pequeno, um número reduzido de empresas na bolsa e uma grande variedade de produtos financeiros com retornos elevados, a pouca importância que as pessoas em geral dão ao G não chega a ser surpreendente”, pondera.

Emanuel destaca que um exemplo da importância do “E” para a conquista de mercado vem da Korin. A empresa se posicionou como produtora de frangos orgânicos, criados da forma mais natural possível. Na mesma linha, cada vez mais ovinocultores oferecem ovos de galinhas criadas sem gaiola e produtores rurais em geral ofertam produtos anunciando baixo uso ou mesmo ausência de agrotóxicos, reforçando uma percepção de compromisso com o meio ambiente. “Não à toa, tais produtos são muito mais caros e, mesmo assim, há muitos interessados neles”.

Por outro lado, há um limite para a quantidade de pessoas que podem desconsiderar o fator preço como decisivo na hora de consumir em um país com renda média baixa, destaca o advogado. Mas casos iguais aos citados anteriormente comprovam que já há um bom espaço para as empresas que apostam na sustentabilidade.

O advogado alerta, porém, que a pauta de sustentabilidade corporativa pode encontrar seu teto quando ela se converte em uma tentativa de impor padrões alimentares e de consumo específico sem levar em consideração o público a que se dirige. “A diferença entre impor e influenciar é sutil, mas notória para quem está na outra ponta”.

Contribuição para a reputação

O “S” pode contribuir muito para a reputação de uma empresa e também para resgatar uma série de consumidores que, anteriormente, podiam se sentir alienados. O advogado relembra o caso do Magazine Luiza, que obteve uma fortíssima propaganda positiva ao criar um programa de trainee para negros, aplicando a chamada discriminação positiva.

Na avaliação dele, o enveredamento em questões sociais por parte de muitas empresas pode ocorrer por motivos ideológicos. “Contudo, há uma diferença clara entre atuar para reduzir injustiças sociais e para promover a possibilidade de que grupos que se sentem marginalizados possam ser efetivamente incluídos, o que certamente é um desejo da maioria absoluta da população e será bem aceito pelos consumidores, e tentar impor ideias específicas como sendo ideias gerais, o que pode limitar o efeito mercadológico desse tipo de imposição”, conclui Emanuel.

Sobre Emanuel Pessoa

Advogado especializado em Governança Corporativo, Direito Societário, Contratual e Econômico, Emanuel Pessoa é mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo, Certificado em Negócios de Inovação pela Stanford Graduate School of Business, além de Bacharel e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará.

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